Em 1993, a Assembléia Geral das Nações Unidas adotou a resolução A/RES/47/193 através da qual declarou o dia 22 de março de cada ano como o Dia Mundial das Águas, de acordo com as recomendações da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento contidas na Agenda 21 da Eco 92.
Mas por que deve haver um dia para comemorar a água se ela é um bem renovável e abundante na natureza? O planeta não tem 75 % da superfície coberta por água?
Embora a maior parte seja salgada, é possível dessalinizar a água e aproveitá-la para abastecimento. Em alguns países isso já é uma prática comum. O sal pode ser separado da água por osmose inversa, processo que utiliza alta pressão e membranas semipermeáveis especiais. O custo é, obviamente, maior que o tratamento convencional. Porém, nossa região está um pouco longe da costa e essa alternativa se torna impossível.
Mas tudo bem, o Brasil tem uma das maiores reservas de água do mundo, quase 12 % da água doce do planeta. Entretanto, a maior parte dessa água encontra-se na região amazônica, que também está longe daqui.
E por falar em região Norte, o Brasil tem o privilégio de ter climas tropicais e equatoriais, onde a chuva é abundante. Em vários locais já se utiliza a água pluvial para abastecimento, principalmente em pequenas comunidades. Todavia, devemos lembrar que nossa região tem sofrido com a falta de chuvas nos últimos anos, especialmente no verão, onde o consumo de água é maior.
Ah, temos ainda uma das maiores reservas subterrâneas de água doce da Terra, o Aqüífero Guarani. Infelizmente sua exploração é cara e exige alta tecnologia para perfurar poços artesianos sem contaminar todo o lençol freático. A cidade de Presidente Prudente já utilizou esse recurso, mas atualmente utiliza apenas fontes superficiais. Mesmo assim, contribuímos com o aqüífero, pois estima-se que 40 % da água tratada é desperdiçada através de vazamentos.
Bom, atualmente fala-se muito em reuso da água. Várias indústrias já têm implantado um sistema para reuso da água. Vários países desenvolvidos já fazem o reuso do esgoto em cidades para fins menos nobres. Só que nós ainda precisamos de mais estudos nessa área e, conseqüentemente, de mais dinheiro.
Mas não temos falta de água em nossas casas. Isso é problema dos países árabes, onde tem deserto. É bem verdade que no Brasil existe a seca no Nordeste, onde crianças iguais às nossas morrem porque não têm um copo de água, ainda que suja, para beber. Mas o Nordeste também está muito longe daqui e não podemos mandar garrafas de água mineral para lá, isso deve ser iniciativa do governo. Já pagamos impostos, certo? E assim nossa consciência fica tranqüila, pois depositamos a culpa no outro.
Enquanto isso, vamos “varrendo” durante horas a calçada da frente de nossas casas com a mangueira, pois assim apreciamos o movimento da rua e deixamos a calçada bem fresquinha...
E se as guerras desse século forem pela água, conforme algumas previsões, é bom gastarmos mais para que não venham lutar com o nosso país. Afinal, é preferível deixarmos nossos filhos e netos morrerem pela falta d’água do que em combate, não é verdade?
Por Máriam Trierveiler Pereira
Possui graduação em Engenharia Civil, especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho e mestrado em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal do Paraná e é Doutoranda em Engenharia Química com ênfase em Gestão, Controle e Preservação Ambiental pela Universidade Estadual de Maringá. Tem experiência na área de Engenharia Ambiental, com ênfase em avaliação de impactos ambientais, sistema de gestão ambiental, qualidade ambiental da água, modelagem de poluição difusa, educação ambiental, planejamento e índices de qualidade sócio-ambiental urbana.
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