No século passado, em 1948, a Mãe-Terra assistiu, orgulhosa, seus filhos publicarem a Declaração Universal dos Direitos Humanos. O documento diz que “Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos” e que “Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades ... sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.”
O texto sugere uma igualdade entre os seres humanos que é, no mínimo, utópica e ilusória, quase cínica. Para aqueles que não perceberam a fantasia, eis os fatos:
1) em 1975 foi aprovada a Declaração das Nações Unidas dos Direitos das Pessoas Deficientes;
2) em 1979 foi adotada na Assembléia Geral das Nações Unidas a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres, e ratificada no Brasil em 1º de fevereiro de 1984;
3) em 1985 foi produzida pela ONU uma Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas;
4) em 1990 foi publicada no Brasil o Estatuto da Criança e do Adolescente e
5) em 2003 foi aprovado o Estatuto do Idoso no Brasil.
Por que surgiram essas novas declarações? Não são todos seres humanos?
Além das declarações das minorias, existem também seus dias específicos para que não se esqueçam delas: Dia Internacional dos Deficientes Físicos (3 de dezembro), Dia Internacional da Mulher (8 de março), Dia do Índio (19 de abril), Dia da Criança (12 de outubro), Dia da Consciência Negra (20 de novembro) e Dia do Idoso (27 de setembro).
Por que não existe o Dia do Homem Branco de 18 a 65 anos? Porque todos os demais dias do ano são dele... É esse homem que governa e não obedece às leis, que ordena guerra e exige paz, que cria declarações universais e institui os dias comemorativos... Pensando bem, o mundo é de quem faz parte dessa “classe”...
Ainda junto com as minorias, encontra-se o Meio Ambiente, que necessita de leis especiais e data comemorativa (5 de junho). Infelizmente, o modelo atual de pensamento é o antropocentrismo e o meio ambiente sofre influência dos seres humanos. De todas as minorias, o Meio Ambiente é o mais agredido e menos valorizado.
Entretanto, deve-se lembrar que para se defender, a natureza é cruel e imperdoável. Já estamos assistindo sua fúria em certas regiões do planeta com tempestades, furacões, secas, invernos e verões rigorosos.
E o pior é que essas conseqüências são sentidas por todos do planeta: plantas, animais, seres humanos... O Homem Branco de 18 a 65 anos não mede suas ações e os mais fracos, como crianças e idosos, sentem de forma drástica a reação da natureza.
Nessa medição de forças, quem será que ganha? O Homem, que é maioria e dono do mundo? Os deficientes, as mulheres, os índios, as crianças e os idosos, que são as minorias, mas que juntos podem ter forças? Ou o Meio Ambiente, que também é minoria, mas é escravo dos demais?
Sem sobra de dúvida, com apenas alguns segundos de reflexão, verificamos que o Meio Ambiente é muito mais forte do que seus “senhores”. O Homem nada poderá fazer quando a natureza não conseguir segurar mais seus impulsos egoístas e capitalistas. Em sua cegueira política e econômica, o Homem esquece-se que a natureza já existia quando seus antepassados surgiram na Terra. Conclui-se que o Meio Ambiente não precisa do Homem e, ao contrário, o Homem depende exclusivamente do Meio Ambiente.
É, pensando bem, o mundo não é dos Homens Brancos de 18 a 65 anos. O mundo não é de ninguém, é de Todos...
Por Máriam Trierveiler Pereira
Possui graduação em Engenharia Civil, especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho e mestrado em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal do Paraná e é Doutoranda em Engenharia Química com ênfase em Gestão, Controle e Preservação Ambiental pela Universidade Estadual de Maringá. Tem experiência na área de Engenharia Ambiental, com ênfase em avaliação de impactos ambientais, sistema de gestão ambiental, qualidade ambiental da água, modelagem de poluição difusa, educação ambiental, planejamento e índices de qualidade sócio-ambiental urbana.
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