Leite orgânico uma saída para aumentar a produção sem prejudicar o meio ambi
Publicado em 24/04/2008
A inclusão do leite no Programa Fome Zero é uma das formas de garantir maior estabilidade de preços no setor lácteo. Estima-se que, com o programa implementado integralmente, o consumo interno sofrerá um incremento de, aproximadamente, cinco bilhões de litros de leite. O aumento do consumo interno garantirá preços mais atrativos para a classe produtiva, incentivando os investimentos para o crescimento da produtividade.

Os cálculos feitos pelo Ministério da Segurança Alimentar de Combate a Fome indicam uma demanda de 3 milhões de hectares a mais para produção de alimentos para atender ao Programa Fome Zero. Entretanto, os baixos índices técnicos do setor leiteiro, como produtividade aproximada de 1.200 kg/vaca/ano de leite evidenciam que aumentos da produtividade de apenas 20%, implementando a produtividade atual das 17.500 milhões de vacas para 1.400 kg/vaca/ano de leite, podem atender às necessidades de consumo sugeridas pelo Ministério sem acréscimos na área a ser explorada com a pecuária leiteira.

O baixo potencial produtivo da maioria das pastagens, inclusive nas principais bacias produtoras de leite do País, constitui uma das principais limitações na produção de leite do rebanho bovino brasileiro. A produtividade das pastagens brasileiras é baixa devido, principalmente, à carência de nitrogênio, fósforo e potássio, nutrientes que mais limitam a produção. Outro fator limitante refere-se ao fato de que na maioria das regiões fisiográficas brasileiras verificam-se duas estações climáticas bem distintas: a chuvosa, em que a umidade, a temperatura e a luminosidade são, geralmente, favoráveis ao crescimento das espécies tropicais e a da seca, em que esses fatores são, quase sempre, adversos. Como conseqüência, ocorre marcante estacionalidade anual de produção de forragem.

Por outro lado, a produção de leite de vacas em pastagens de capim-elefante (Pennisetum purpureum) e em forrageiras do gênero Cynodon, adubados com nitrogênio, já é bem estudada na Embrapa Gado de Leite. Produções diárias de leite de 12 a 14 kg/vaca em pastagem de capim-elefante, manejada em sistema rotativo e adubada com 200 kg de nitrogênio e de K2O/ha/ano, foram observadas. Esses níveis de produção de leite em pastagens tropicais parecem estar próximos do limite máximo de produção obtidos com vacas mestiças com potencial ao redor de 4.500 kg/lactação.

Torna-se evidente que o aumento da produção de leite é imprescindível e urgente para atender diretamente ao Programa Fome Zero e, indiretamente, à geração de empregos e a fixação do homem no campo. Porém, deve-se estar atento para que este aumento da produtividade por meio da intensificação da exploração não venha a agredir mais o meio ambiente. Existe um reconhecimento, não só da comunidade técnico-científica como também dos governos acerca da necessidade de adoção de ações que promovam um redirecionamento das atividades agropecuárias, a fim de garantir a conservação dos recursos naturais para as gerações futuras.

Há muitas evidências de que as atividades humanas são causadoras de mudanças no meio ambiente. Os aumentos nas concentrações atmosféricas de CO2, NO2 e outros gases-estufa causados por emissão dos solos depois do desmatamento mostram que a derrubada e a queima das matas nas áreas tropicais é assunto de importância global. Entretanto, de todos os problemas ambientais advindos do avanço da agricultura nacional, o mais importante, sem dúvida, é a erosão hídrica, que vem, a cada ano, se agravando, comprometendo os recursos naturais e pondo em risco a produção econômica, além de degradar o seu mais importante recurso: o solo.

Um tema enfatizado pela agricultura orgânica é a exploração de policultivos que estimulam a biodiversidade. Em um sistema de produção orgânico a alimentação do rebanho deve ser equilibrada e suprir todas as necessidades dos animais. O consórcio de gramíneas e leguminosas na pastagem é recomendado e é exigida a diversificação de espécies vegetais. Sugere-se a implantação de sistemas silvipastoris (SSP), nos quais as árvores e arbustos fixadores de nitrogênio (leguminosas) possam se associar com pastagens. Nos SSP, além da fixação do carbono na gramínea e na leguminosa herbácea (caso exista), há acúmulo de carbono na madeira e nas raízes das árvores. Em geral os SSP têm maior produtividade primária líquida como conseqüência da sua maior captação de luz, maior ciclagem de nutrientes e maior eficiência no uso dos recursos como água. Maior produtividade primária líquida implica maior imobilização de carbono no sistema.

A presença da leguminosa aumenta a disponibilidade de forragem da pastagem consorciada, tanto por sua contribuição per se como pela disponibilização de nitrogênio, estimulando o crescimento da gramínea. Mesmo com menor área para crescimento, por causa da presença da leguminosa na pastagem, a B. decumbens consorciada com o S. guianensis apresentou produção de MS semelhante à da monocultura, evidenciando que a leguminosa tenha aumentado a quantidade de nitrogênio no solo, contribuindo para o crescimento da gramínea. A massa de forragem na pastagem consorciada foi maior que a do monocultivo.

A produção de leite pode ser incrementada com a introdução de SSP nas propriedades. Resultados indicam que aumentos de produção podem ser obtidos usando-se práticas recomendadas num sistema orgânico, evitando-se o uso de adubos químicos e preservando o meio ambiente.

Temos que estar atentos para não repetirmos os erros cometidos nas décadas passadas. Nos últimos 50 anos, todos os esforços de pesquisa foram orientados para desenvolver tecnologias de alto rendimento, fortemente dependentes de grandes insumos e orientadas, principalmente, para a maximização da produtividade. Além do aumento da produção e produtividade, agora é hora de pensar nos aspectos ecológicos envolvidos na cadeia produtiva do leite.

Fonte: http://www.planetaorganico.com.br/TrabAroeira2.htm
 
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